domingo, 21 de março de 2010

O que Jesus faria se fosse um executivo samurai?

Uma visita a qualquer seção de auto-ajuda em qualquer livraria da Terra demonstra cabalmente o fato de que sim, precisamos urgentemente de ajuda. Só um quadro psicológico patológico coletivo, de mau prognóstico, pode explicar as vendas estratosféricas de determinadas obras. Esta ajuda da qual necessitamos, porém, dificilmente, será obtida da leitura de pérolas como as que relacionam cultura oriental com estratégias corporativas. Ou pior: a crescente cepa que utiliza a figura de Jesus, Buda e outros de modo a buscar inspiração em seus modos de vida para sermos melhores nas tarefas menos – digamos assim – “espirituais” da vida moderna. É possível resumir toda este pseudo-literatura em uma dúzia ou menos de obviedades empíricas que na realidade todos nós sabemos mas nunca – ou na maior parte do tempo – realmente levamos da teoria para os fatos da vida diária. São verdadeiros axiomas da condição humana como, por exemplo, “persevere em seus objetivos”, “estabeleça metas”, “pense positivo”, etc... O fato de consumirmos livros, palestras e demais mídias com material que apresentam estas idéias, tão velhas quanto a humanidade, em embalagens das mais diversas (mexer em queijos, ser monge, ser samurai, ser Jesus) pode ser bem sintomático: os assuntos mais tratados neste filão são sempre amor e sexo (homens são isso, mulheres são aquilo...) e dinheiro.
A conversão da leitura – um habito intelectual – em direção a focar em desejos tão básicos condiz com a atual visão do homem como um ente biológico bem ao gosto do darwinismo social. Até mesmo nas trevas mais densas da idade média, surgiam obras literárias e tratados de uma profundidade hoje praticamente ausente. A superficialidade da literatura atual assusta pelo fato de que compõe com demais setores da atividade humana um desinteresse em evolução, em prosseguir na grande aventura da construção do conhecimento humano. A infantilização das massas é uma estratégia perfeita para impedir a formação de senso crítico, mas mais importante ainda, para impedir a troca de experiências reais.

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