segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

EXTINÇÃO

A divulgação do relatório da ONU sobre a mudança climática traz, com mais de vinte anos de atraso, a oportunidade de um debate mais sério sobre o tema, que é hoje o problema mais urgente da humanidade. Desde muito antes da conferência ECO 92, vários elementos da sociedade civil, tendo como expoente o ambientalismo, vem lançando alertas sobre o risco do aquecimento global e suas trágicas conseqüências. Tais alertas foram sistematicamente minimizados, refutados e até ridicularizados por parte de governos e corporações, dotados da mentalidade desprovida de razão que costuma ser chamada de “pensamento estratégico”.

Agora, quando o desastre anunciado bate à porta, estamos assistindo nossos líderes tentando demonstrar sérias preocupações que os levarão, talvez, a propor medidas paliativas que teriam sido efetivas se tivessem sido implementadas há décadas atrás, no boom automobilístico do pós-guerra ou nos primórdios da “revolução verde”, oportunidades em que começamos a despejar toneladas e toneladas diárias de poluentes e agrotóxicos em nosso habitat natural.

Ora, a esta altura do campeonato, as medidas propostas, incluindo aqui o Protocolo de Kyoto, mesmo se levados aos fatos, já não teriam nenhum objetivo de reversão de processos. Se atingissem o total atendimento de suas metas, talvez conseguissem desacelerar de forma superficial os fenômenos de mudança climática em andamento.

Estamos em uma hora crítica e somente a pressão popular sobre governos e instituições poderá efetivar as mudanças e curso que necessitamos agora. Em especial aos mais jovens, aqueles que estão para herdar um planeta onde furações, tsunamis, enchentes, ondas de calor, escassez de água e todo tipo de catástrofes naturais serão rotina.

Se houvesse verdadeira disposição de nossos líderes para estancar a tragédia anunciada, deveríamos começar a pensar muito seriamente em ações de impacto imediato, como a supressão da circulação e fabricação de automóveis, a proibição de indústrias de produtos não-essenciais, como celulares e armas, taxações proibitivas para artigos de luxo. Claro que tais mudanças exigiriam uma transformação brutal de nosso modelo social, baseado no acúmulo de capital e na produção industrial massiva, que foi responsável por termos chegado ao ponto que chegamos. Por exemplo, teríamos que dispor de um sistema eficiente, barato e extremamente capilarizado de transporte público com o qual possamos substituir o automóvel. E nem podemos nos dar ao luxo de dizer que este é um desafio para as próximas gerações. Estas são decisões que terão que ser tomadas agora. Radicalismo? Utopia? Provavelmente sim. Mas talvez seja uma simples questão de escolha entre adaptar-se ou caminhar para a extinção.

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