quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
Maldito planeta Vênus!
Austrália. Janeiro de 2006. Encabeçadas pelos EUA, corporações privadas e órgãos governamentais da Austrália, China, Coréia do Sul, Índia e Japão promovem a Cúpula Ásia-Pacífico de Mudanças Climáticas. O que é comum a todos os participantes? São nações que se recusaram a aderir ao Protocolo de Kyoto - com exceção do Japão. Juntos, respondem por 48% dos gases poluentes jogados à atmosfera. Juntos, buscam construir um álibi que lhes permita – mais uma vez – enganar a população mundial, ao propor medidas inócuas e paliativas em substituição às metas de redução de emissão de gases proposta em Kyoto. O próprio Protocolo de Kyoto vem sendo insuficiente, dada a velocidade e a intensidade com que as alterações climáticas causadas pelo efeito estufa vem apresentando.
“Supostamente causadas pelo efeito estufa” diria, talvez, o Tio Sam. Já surgiram inúmeros cientistas e pesquisadores (especialmente norte-americanos) que declaram que a temporada inédita de ciclones e catástrofes similares pode ser fruto do “trânsito de Vênus à frente do Sol”.
As corporações que controlam as pessoas que hoje controlam o governo dos Estados Unidos e outros países, seguidamente financiam brilhantes trabalhos científicos que buscam minimizar ou até mesmo negar a realidade sentida no dia a dia das profundas mudanças climáticas que o planeta vem sofrendo. A lógica destes grupos é bem simples: para que houvesse uma redução de emissão de poluentes que realmente tivesse impacto para frear o efeito estufa e a degradação da camada de ozônio, eles precisariam implementar mudanças que, dadas as possibilidades tecnológicas atuais, significariam uma queda brusca nos seus rendimentos, pelo óbvio aumento dos custos de produção. E isso é algo que a elite financeira mundial não pode aceitar jamais.
Isso lembra um pouco aquele velho clichê do cinema hollywoodiano: o sujeito que, mesmo vendo que a caverna vai desabar, volta lá dentro para carregar toda parte do tesouro que puder e assim morre soterrado abraçado ao ouro.
Talvez um dos participantes da cúpula possa, quando estiver retornando para Washington, fazer uma pequena escala em Nairóbi, ao menos para explicar para o pessoal que o culpado de tudo pode ser Vênus, Saturno ou quem sabe a constelação das Plêiades. Tenho certeza de que os quenianos entenderiam.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
EXTINÇÃO
A divulgação do relatório da ONU sobre a mudança climática traz, com mais de vinte anos de atraso, a oportunidade de um debate mais sério sobre o tema, que é hoje o problema mais urgente da humanidade. Desde muito antes da conferência ECO 92, vários elementos da sociedade civil, tendo como expoente o ambientalismo, vem lançando alertas sobre o risco do aquecimento global e suas trágicas conseqüências. Tais alertas foram sistematicamente minimizados, refutados e até ridicularizados por parte de governos e corporações, dotados da mentalidade desprovida de razão que costuma ser chamada de “pensamento estratégico”.
Agora, quando o desastre anunciado bate à porta, estamos assistindo nossos líderes tentando demonstrar sérias preocupações que os levarão, talvez, a propor medidas paliativas que teriam sido efetivas se tivessem sido implementadas há décadas atrás, no boom automobilístico do pós-guerra ou nos primórdios da “revolução verde”, oportunidades em que começamos a despejar toneladas e toneladas diárias de poluentes e agrotóxicos em nosso habitat natural.
Ora, a esta altura do campeonato, as medidas propostas, incluindo aqui o Protocolo de Kyoto, mesmo se levados aos fatos, já não teriam nenhum objetivo de reversão de processos. Se atingissem o total atendimento de suas metas, talvez conseguissem desacelerar de forma superficial os fenômenos de mudança climática em andamento.
Estamos em uma hora crítica e somente a pressão popular sobre governos e instituições poderá efetivar as mudanças e curso que necessitamos agora. Em especial aos mais jovens, aqueles que estão para herdar um planeta onde furações, tsunamis, enchentes, ondas de calor, escassez de água e todo tipo de catástrofes naturais serão rotina.
Se houvesse verdadeira disposição de nossos líderes para estancar a tragédia anunciada, deveríamos começar a pensar muito seriamente em ações de impacto imediato, como a supressão da circulação e fabricação de automóveis, a proibição de indústrias de produtos não-essenciais, como celulares e armas, taxações proibitivas para artigos de luxo. Claro que tais mudanças exigiriam uma transformação brutal de nosso modelo social, baseado no acúmulo de capital e na produção industrial massiva, que foi responsável por termos chegado ao ponto que chegamos. Por exemplo, teríamos que dispor de um sistema eficiente, barato e extremamente capilarizado de transporte público com o qual possamos substituir o automóvel. E nem podemos nos dar ao luxo de dizer que este é um desafio para as próximas gerações. Estas são decisões que terão que ser tomadas agora. Radicalismo? Utopia? Provavelmente sim. Mas talvez seja uma simples questão de escolha entre adaptar-se ou caminhar para a extinção.