sexta-feira, 17 de julho de 2015

Introdução ao rock pela mãos do pop papal

Na realidade, quase a totalidade da música que eu escuto está de alguma forma relacionada com uma determinada linhagem que envolve punk-hardcore-new wave-ska-indie rock. Esse primeiro relato pode estar em dissonância com a seqüência, mas é de fundamental importância por marcar de maneira definitiva meu gosto pelo rock. Eu ganhei o disco “O papa é pop” dos Engenheiros do Hawaii como presente de aniversário, dado pela minha madrinha. Meu pai tinha em casa um velho aparelho de som genial, com base em madeira, com toca-discos, toca-fitas e rádio, hoje ele pareceria um gigante deslocado de seu tempo, com seus enormes plugues, botões e seus estalos característicos. O bicho era tão incrível que até comunicação com o além ele era supostamente capaz de realizar. Mas essa é outra história... O fato é que eu tinha pedido aquele disco só por causa da música título, que martelava nas FMs da época e que tinha grudado na minha mente. Ouvi a faixa milhares de vezes até quase os sulcos do vinil ficarem lisos. Aos poucos comecei a curtir todo o disco, ate conhecê-lo do primeiro ao ultimo risco. Foi quando me dei conta de que na realidade, o papa é pop, apesar do refrão ganchudo e melodia chiclete, era uma das músicas mais fracas do disco, na minha opinião. As letras do Humberto Gessinger eram ao mesmo tempo familiares e enigmáticas e o som daquele disco em termos gerais, me conquistou em definitivo para o rock (ou para o pop rock, que seja). Até hoje, acho a frase “somos kamikazes incapazes de ir a luta” uma das mais felizes da obra dos caras. Década e meia depois, num intervalo mais pop de minha história musical, comprei a lata dos Engenheiros com todos os discos ate o Minuano. (Re)descobri musicas que curto muito, especialmente da primeira fase deles . O disco mais rock deles - e para mim o melhor – é o “Dançando no campo minado”, de 2006. Incrível que depois de tanto tempo de banda, eles exorcizaram o lado mais rock da banda nesse disco. Depois, o Humberto Engenheiro-chefe entrou numas de acústicos e violas e poucas vogais que eu realmente não curto. Como o bicho é a real e verdadeira metamorfose ambulante, vou aguardar a próxima onda mais barulhenta para ouvir de novo. Mas vi dois shows muito legais com eles: um em SLS no saudoso Aldeia Atlântida. E outro em POA, num interlúdio de shows plugados entre a onda acústica e as muitas consoantes. Mas voltando para a pré-história (1989), lembro que tinha um cara na cidade que era disparado o grande fã dos engenheiros, ele tinha um cabelo igual ao do Humberto. Era o momento dos caras. Alguém quis grafitar a frase “os engenheiros são o canal” nas paredes de um clube de tênis, mas naquela velha pressa e adrenalina da pichação, saiu “os engeiros são o canal”. Mas beleza, o recado estava dado. No ano seguinte, pedi de aniversário para a minha madrinha o disco novo dos Engenheiros, “Várias variáveis”. Consegui gostar – um pouco – de “Herdeiros do pampa pobre”, mas achei todo o resto do disco uma droga naquele momento. Revisitando-o, 15 anos depois, vi que realmente segue sendo para mim o pior disco deles, disparado. Foi exatamente após a decepção com este disco, que me dei conta de que o pop rock não tinha tanto a ver comigo. Foi assim que troquei o “Várias variáveis” mais o ex-disco predileto “O papa é pop” pelo “Epic” do Faith No More. No somatório geral, parti de dois discos e voltei a ter um só, mas o lucro líquido foi todo meu.

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