sexta-feira, 17 de julho de 2015
Fé nunca mais...
EPIC – FAITH NO MORE
Buenas, claro que conheci “Epic” pelo único canal de divulgação musical disponível para mim naquele tempo: radio FM. A única que pegava bem em SLS era a Atlântida de Pelotas. Fazer o que?
O som de “Epic” me mostrou um rock mais pesado e intenso, e resolvi ir atrás do disco. Como disse no outro tópico, troquei 2 vinis do EngHaw pelo bolachao do Faith no More. Foi chapante. Depois de ouvir “Epic” ate não poder mais, novos tesouros como “Falling to pieces”, “From out of nowhere” e “Surprise, you’re dead” se tornaram meus hinos para aquele triste fim de década.
Assisti o vídeo de “Epic” em um programa de videoclipes que passava na Band e era apresentado pelo Emilio Surita. Sim, aquele cara que hoje comanda o Pânico. Na época, não se conhecia ainda a alcunha de VJ. Depois do programa, eu ficava deitado no chão da sala de estar ouvindo o vinil e ficava imaginando vídeos para todas as outras musicas. Lembro que num deles, os caras da banda comiam cogumelos e se tornavam gigantes que destruíam a pobre e indefesa SLS (é, em 1989, eu odiava nossa querida aldeia e sim, cogitaram a hipótese de autismo, por ficar deitado imaginando vídeos).
Analisando hoje, acho que o que eu mais gostei na banda e no disco foi o cheiro de autenticidade da coisa toda. Era um rock raivoso, distorcido e que era o que batia direto na minha cabeça oitentista. O vocalista Mike Patton destoava bastante dos “cantores de rock” da época e eles todos pareciam pouco de importar com aparência. O guitarrista tornou-se icônico exatamente por isso. Uma figura. Em uma cena em que as gurias começavam a aceitar Axl Rose e Sebastian Bach como símbolos de beleza, o FNM ganhava pontos em pouco de esforçar no sentido estético do sucesso.
A prova definitiva de que eu havia me tornado um “rockeiro” foi quando comprei a minha primeira “camiseta de banda”. Era uma branca bagaceira de camelo que tinha a estampa do primeiro disco do FNM, aquele que ainda era com o Chuck Mosely no vocal (Introduce yourself). Depois, achei outra, pouca coisa melhor, preta com a capa do disco ao vivo, “Live at the Brixton Acamedy”.
Essas pequenas mudanças já bastaram para que eu ganhasse a reputação de estranho, ou melhor, de mais estranho. Mas aos poucos fui encontrando minha turma. Descobri duas grandes amigas – a Cintia e a Márcia – que eram muito mais rockers do que eu e me puseram em contato com a cena metal e hard rock da época.
Mas... assim como são as coisas, são as criaturas. Curiosamente, apesar de todo meu fanatismo pelo FNM, eu não consegui gostar de NADA que eu ouvi: Guns n roses, Skid Row, Metallica. Bastante decepcionado, achei que a única banda que prestava era o FNM. Dai, eles lançaram o Angel dust, pelo qual eu esperei ansiosamente e juntei avaramente dinheiro. Igual ao acontecido com EngHaw, achei Angel Dust uma droga, com a exceção de “Midlife crisis”, que segue sendo a minha musica predileta do FNM ate hoje.
Em síntese, eu era um fã de rock, mas de uma banda só. E pior, de um disco só. Nada do que estava tocando nas rádios me interessava nem um pouco. Havia chegado de novo numa encruzilhada musical, mas que seria em breve definida. No próximo tópico, voltamos a esse ponto.
Em tempos modernos, redescobri o FNM com a coletânea “Who cares a lot?”, a qual achei excelente. Não obstante, sou “Epic” ate o fim da vida. Depois, o conjunto da obra só decaiu, embora os discos seguintes contenham algumas musicas que eu curto demais, como “digging the grave”, “last cup of sorrow”, “ashes to ashes”. Em 2009, tive a oportunidade de realizar um sonho de adolescente quase 20 anos depois. Fui no show do FNM em Porto Alegre e assim como centenas de criaturas na casa dos 30, voltei a ter 15 anos por algumas horas. O show estava excelente e o FNM parecia aquele mesmíssimo de 1989. Um dos melhores shows que já fui, sem dúvida.
Introdução ao rock pela mãos do pop papal
Na realidade, quase a totalidade da música que eu escuto está de alguma forma relacionada com uma determinada linhagem que envolve punk-hardcore-new wave-ska-indie rock. Esse primeiro relato pode estar em dissonância com a seqüência, mas é de fundamental importância por marcar de maneira definitiva meu gosto pelo rock.
Eu ganhei o disco “O papa é pop” dos Engenheiros do Hawaii como presente de aniversário, dado pela minha madrinha. Meu pai tinha em casa um velho aparelho de som genial, com base em madeira, com toca-discos, toca-fitas e rádio, hoje ele pareceria um gigante deslocado de seu tempo, com seus enormes plugues, botões e seus estalos característicos. O bicho era tão incrível que até comunicação com o além ele era supostamente capaz de realizar. Mas essa é outra história...
O fato é que eu tinha pedido aquele disco só por causa da música título, que martelava nas FMs da época e que tinha grudado na minha mente. Ouvi a faixa milhares de vezes até quase os sulcos do vinil ficarem lisos. Aos poucos comecei a curtir todo o disco, ate conhecê-lo do primeiro ao ultimo risco.
Foi quando me dei conta de que na realidade, o papa é pop, apesar do refrão ganchudo e melodia chiclete, era uma das músicas mais fracas do disco, na minha opinião.
As letras do Humberto Gessinger eram ao mesmo tempo familiares e enigmáticas e o som daquele disco em termos gerais, me conquistou em definitivo para o rock (ou para o pop rock, que seja). Até hoje, acho a frase “somos kamikazes incapazes de ir a luta” uma das mais felizes da obra dos caras.
Década e meia depois, num intervalo mais pop de minha história musical, comprei a lata dos Engenheiros com todos os discos ate o Minuano. (Re)descobri musicas que curto muito, especialmente da primeira fase deles . O disco mais rock deles - e para mim o melhor – é o “Dançando no campo minado”, de 2006.
Incrível que depois de tanto tempo de banda, eles exorcizaram o lado mais rock da banda nesse disco. Depois, o Humberto Engenheiro-chefe entrou numas de acústicos e violas e poucas vogais que eu realmente não curto. Como o bicho é a real e verdadeira metamorfose ambulante, vou aguardar a próxima onda mais barulhenta para ouvir de novo. Mas vi dois shows muito legais com eles: um em SLS no saudoso Aldeia Atlântida. E outro em POA, num interlúdio de shows plugados entre a onda acústica e as muitas consoantes.
Mas voltando para a pré-história (1989), lembro que tinha um cara na cidade que era disparado o grande fã dos engenheiros, ele tinha um cabelo igual ao do Humberto. Era o momento dos caras. Alguém quis grafitar a frase “os engenheiros são o canal” nas paredes de um clube de tênis, mas naquela velha pressa e adrenalina da pichação, saiu “os engeiros são o canal”. Mas beleza, o recado estava dado.
No ano seguinte, pedi de aniversário para a minha madrinha o disco novo dos Engenheiros, “Várias variáveis”. Consegui gostar – um pouco – de “Herdeiros do pampa pobre”, mas achei todo o resto do disco uma droga naquele momento.
Revisitando-o, 15 anos depois, vi que realmente segue sendo para mim o pior disco deles, disparado.
Foi exatamente após a decepção com este disco, que me dei conta de que o pop rock não tinha tanto a ver comigo. Foi assim que troquei o “Várias variáveis” mais o ex-disco predileto “O papa é pop” pelo “Epic” do Faith No More. No somatório geral, parti de dois discos e voltei a ter um só, mas o lucro líquido foi todo meu.
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